Entrevista com Hália Pauliv
Em alusão a este Dia Nacional da Adoção, a escritora Hália Pauliv faz sua palestra de despedida, após anos dedicados à conscientização sobre a adoção no Brasil
Hália Pauliv de Souza, 85 anos, despediu-se da vocação: a vida dedicada à adoção. Enérgica, ela palestrou para juízes, advogados, assistentes sociais e estudantes no auditório da UFPR, em Curitiba, no dia 24 de maio de 2023. Bióloga, professora e sexóloga, Hália escreve sobre adoção há 37 anos, há 27 é voluntária do Grupo de Apoio à Adoção Consciente; mesmo após anos militando, ainda se emociona ao falar sobre as histórias vividas.
Hália deu aulas em cursos de adoção e ministrou palestras por todo Brasil. Na sua militância, orientou e conscientizou diversas famílias. Não conseguiu segurar as lágrimas ao falar sobre afeto e ao lembrar das filhas e netas, todas por meio da adoção. Disse não gostar da distinção entre filhos adotivos e biológicos. “Eu sou bióloga, todo ser humano é biológico”, disse a escritora.
Nascida em São Paulo, “por acaso”, Pauliv é filha de imigrantes ucranianos. Até seus 10 anos viveu na colônia ucraniana em Joaquim Távora, no norte do Paraná. “Meus pais me alfabetizaram do jeito deles, minha mãe me ensinava português e meu pai o ucraniano”. Posteriormente, a família se mudou para Jacarezinho, onde tinha escola. No ensino médio, Hália descobriu que poderia fazer faculdade. “Com 18 anos eu vim sozinha para Curitiba, trabalhava em uma escola do Boqueirão e estudava Biologia”. Sozinha, sustentou seus estudos na PUCPR.
Após formada, Hália casou-se. Tentou ter filhos, mas sofreu um aborto espontâneo. Diz que aceitou bem a notícia de não poder mais ter filhos. O maior luto foi de seu marido, que demorou a aceitar. Decididos a adotar, receberam várias indicações de recém nascidos disponíveis para adoção, de forma irregular. Optaram, no entanto, por procurar os caminhos legais da adoção. A informação era pouco difundida na época. Por meio da Vara da Infância, Hália tornou-se mãe de Renata e Fernanda.
“Todos nossos amigos sabiam que havíamos adotado, nossa casa virou uma romaria, as pessoas iam nos perguntar como se fazia. A gente acabou se envolvendo no ativismo da adoção”, diz. Mãe adotiva nos anos 70, Hália sofreu com estigma em diversos espaços. Conta que em seu tempo o preconceito era explícito. “Achavam que criança adotiva tinha sangue ruim”.
Hália ajudou a fundar o Grupo de Apoio à Adoção Consciente, ofertou cursos de adoção, orientou pretendentes e fez um trabalho de conscientização com muitas famílias. Seu ciclo no voluntariado terminou, mas continua se importando com causas sociais. Nas horas vagas, costuma fazer casacos e cobertores de tricô, que são doados para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Sobre o futuro, Hália diz ter uma nova ideia. “Eu quero escrever, gosto de fazer títulos novos, temas que ainda não existem. Tenho algumas ideias, vamos ver o que vai ser”. Quanto à adoção, espera que os futuros pais e mães continuem estudando, “quero que os preconceitos diminuam, mas para isso é preciso informação”.